“Às vezes me lembro dele. Sem rancor, sem saudade, sem
tristeza. Sem nenhum sentimento especial a não ser a certeza de que, afinal, o
tempo passou. Nunca mais o vi, depois que foi embora. Nunca nós escrevemos.
Não havia mesmo o que dizer. Ou havia? Ah, como não sei
responder as minhas próprias perguntas! É possível que, no fundo, sempre restem
algumas coisas para serem ditas. É possível também que o afastamento total só
aconteça quando não mais restam essas coisas e a gente continua a buscar, a
investigar – e principalmente a fingir. Fingir que encontra. Acho que, se
tornasse a vê-lo, custaria a reconhecê-lo.”
Caio Fernando Abreu
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